O amor é um acontecimento tão simples como complexo, não por
menos uma eterna contradição. Gosto da ideia de que ele seja algo fasciculado,
sistematizado. Na verdade me daria tranquilamente com a forma como se namorava
á cem anos atrás, onde se cortejava, onde existia um móvel chamado de
namoradeira. Hoje em dia sequer essas palavras são usadas. Tudo está sempre
mudando e muda tão rápido. Amor palavra tão pequena, mas que carrega embutida
tantas implicações que são esquecidas, perdidas no imediatismo repentino de um
simples “eu te amo” dito assim meio ao vento. Acho bacana, interessante,
necessária e memorável essa fase mi mi mi, das mensagens de telefone, das
cartas, do arrastar cadeiras, de se abrir portas, das flores, das idas a loja de
esportes para comprar a camisa do time de coração do pai da moça. E fase também
dos chocolates, há quem diga que dar chocolates é uma boa, mas aparentemente
essa questão é bastante delicada, porque envolve alta carga calórica, uma
sociedade com predisposição a diabetes e o estranho medo de que alguém esteja
gostando de você, então não pretendo discutir esse tabu.
Tudo isso é muito
bonito, essa fase romântica sempre foi reverenciada e retratada pela humanidade
em peças de teatro, comédias do Adam Sandler ou em contos de fada. O que eu não
entendo é que na maioria das vezes as histórias terminam aí, no “viveram felizes
para sempre”, quando na verdade, depois dessa célebre frase tem historia para
mais dois livros no mínimo, de repente uma trilogia mais longa que o Senhor dos
Anéis. Depois de casados, compromisso firmado, contas para pagar, filhos
correndo pela casa, dias difíceis no trabalho, uma nova fase para se cuidar do
outro, para ver suas verdadeiras implicações, aí que acredito que está a essência
do verdadeiro amor. Fico me perguntando como a Branca de Neve se saiu no
dia-a-dia com o Príncipe. Se ele ao chegar em casa ajudava a esposa com as
crianças, se ele insistiu para que ela fizesse uma carreira profissional, como
eles fizeram para segurar a barra quando começaram a ter que pagar o INSS dos
sete anões, se ele fez questão de arranjar uma babá para as crianças, se ele
aceitou perder um sábado com os amigos para ela ir passear no castelo da
Rapunzel, se ele soube ser paciente e compreensível com as crises de TPM da
Branca de Neve. Se eles se consolaram quando perderam pessoas que gostavam. Será
que a Branca de Neve e o Príncipe criaram seus filhos e envelheceram juntos e
felizes?
Nada tem a obrigação
de durar para sempre, a vida não vai parecer um eterno parque de diversões e os
contos de fada nunca irão conter uma parte da história que incluem advogados e
processo de separação de bens. Mas as pessoas não procuram outras apenas pelo
simples prazer de uma caminhada de mãos dadas, um beijo, um status no facebook e
um pouco de aceitação da avó quando perguntar pela sua namorada. Ou ao menos
não deveriam. As pessoas buscam alguém
para dividir um pedaço de vida, para compartilhar o melhor e o pior delas, para
crescerem, para não estarem sós e ainda assim muito bem acompanhadas. Quem sabe
um dia as histórias continuem depois do viveram felizes para sempre. Quer haja
castelos, príncipes e maçãs envenenadas. E sem chocolates, acho.
E só para constar, não tenho a mínima ideia se a Branca de
Neve fica com um príncipe ou com um caçador, minha infância não foi a tanto e eu não
quis pesquisar no Google.
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